Clara Averbuck: atiradora de elite


Carlos Willian Leite, Revista Bula

“Não faço as coisas para aparecer, eu apareço porque fiz as coisas”

Escritora, letrista, vocalista, blogueira, iconoclasta e polemista Clara Averbuck, é uma espécie de anti-heroína da internet brasileira. Começou a escrever em 1998, para o lendário “CardosOnline”, o primeiro mailzine brasileiro. Tornou-se autora de quatro livros: “Máquina de Pinball”, “Das Coisas Esquecidas Atrás da Estante”, “Vida de Gato” e “Nossa Senhora da Pequena Morte”. Em 2003, “Máquina de Pinball” ganhou uma adaptação para o teatro e em 2007 Murilo Salles dirigiu o filme “Nome Próprio”, inspirado em sua vida e obra. Em entrevista a Revista Bula, Clara Averbuck não poupa palavras ou pessoas: fala sobre carreira, livros, preferências, idiossincrasias e, atiradora de elite que é, distribui alfinetadas. Sobre o fato de ser vista mais como celebridade de internet do que como escritora que se tornou célebre, tem uma resposta precisa: “Só queria que uma galera aí entendesse que eu não faço as coisas para aparecer, eu apareço porque fiz as coisas”. Atualmente, é redatora do Portal R7 e faz um programa diário com Alessandra Siedschlag, do blog “Te Dou Um Dado?”. Participam da entrevista o escritor e doutor em História Ademir Luiz, o escritor e pós-doutor em literatura Ewerton Freitas e o poeta e jornalista Carlos Willian Leite.

Carlos Willian Leite: À moda de Nietzsche, onde começa sua genealogia? 

Averbuck na Ucrânia, Chirivino Gomes na Itália e eu não sei muito mais do que isso. Só sei que ser mãe judia e italiana não deve ser uma coisa muito boa. Ainda bem que eu não tenho filho homem. Ainda.

Ademir Luiz: A imprensa noticiou sua participação em “A Fazenda 4”, da Rede Record. Seria seu segundo reality show. Considerando sua imagem pública de blogueira iconoclasta, você aceita participar desses programas por que acredita que pode torná-los mais inteligentes, para promover seu trabalho de escritora, para destruir o sistema por dentro ou simplesmente pelo dinheiro?

Só gostaria de pontuar que esse boato da fazenda surgiu na época da veiculação do troca de família. Depois ressurgiu em uma lista falsa de primeiro de abril. Então o jornalista Alberto Pereira Jr., que escreve a coluna Zapping do jornal “Agora”, me perguntou no meio de uma festa se eu ia mesmo pra fazenda. Como eu já estava de saco cheio daquela história floodando minhas mentions no Twitter e de pessoas me olhando estranho na firma onde trabalho há cinco meses achando que eu estou lá para assinar contrato pra fazenda, disse: “Vou, vou sim. Mas não pode espalhar”. Ele publicou. Não sei como a pessoa achou que eu passaria uma informação sigilosa a um jornalista de fofoca desconhecido no meio de uma festa, mas enfim. Parabéns a todos os envolvidos na barriga. Não me apego a esse negócio de imagem de blogueira iconoclasta. Aliás, é essa minha imagem? Não saberia dizer. Reality show não serve para divulgar trabalho. A última coisa que interessa ao público é a profissão do participante. Descobri isso na prática. Ou você entra já tendo uma carreira e sai com um item a mais na legenda do seu nome ou perde a profissão de vez e vira “ex-participante de reality show”. Não sei se posso tornar algo mais inteligente, tenho notado que inteligência é a última coisa que importa na televisão. Mas se eu não for, vai outra pessoa no meu lugar, talvez um idiota, talvez alguém que cause um estrago, talvez uma pessoa nula. Prefiro então que seja eu — um pouco para dar uma trolladinha no mundo e, respondendo enfim a pergunta, pela grana, que é sim o principal motivo de eu topar essas coisas. Esclarecendo: ninguém me chamou pra fazenda. Eu adoraria ir. Pelo dinheiro, que não é pouco, e também pela exposição que isso poderia gerar, já que eu tenho um programa diário no R7 com a Lelê Siedschlag que poderia crescer indefinidamente até a total dominação mundial, nosso plano desde o início.

Carlos Willian Leite: Cinema, literatura ou música?

Música influencia literatura que influencia cinema que influencia música ad infinutum.

Carlos Willian Leite: Você é da ala das inspiradas ou das construtoras?

Já fui só inspirada. Agora sou uma construtora inspirada.

Ademir Luiz: Você teve alguma participação direta na produção do filme “Nome Próprio”, baseado em sua obra e trajetória? Opinou ou aprovou o roteiro? Foi consultora? Conversou com a Leandra Leal?

Esse filme tem uma história enorme. Murilo (Murilo Salles, diretor cinematográfico) comprou o “Máquina de Pinball”. Ficou travado um tempão. Aí quis comprar uns textos do blog. Me mostrou um primeiro tratamento de roteiro, escrito pela Elena Soarez. Gostei — foi o que mais gostei. Mas Murilo continuou em crise, quis mais textos, quis o vida de gato, fez milhões de roteiros, pediu milhões de opiniões, mudou de diretor-assistente, cortou personagens, mudou texto, mudou o filme até depois que passou no Festival do Rio. Eu não apitei em nada. Murilo me pedia socorro às vezes, me pedia para mexer no roteiro, mexer nos GCs, reescrever os offs… foi realmente caótico. No fim ficou uma massa escrita por todo mundo, finalizada por uma galera e com identidade de ninguém. Eu não podia nem chegar perto do set. Murilo tinha inclusive proibido a Leandra de me conhecer, mas ela ignorou a “ordem” e foi me procurar. Ficamos amigas de cara. Ainda somos. Leandra era minha agente infiltrada e tem vários objetos pessoais meus lá, entre discos, pôsteres, livros, roupas… tem um texto bastante esclarecedor a respeito que escrevi para a “Bravo” (http://bit.ly/lq2k0h).”
Entrevista Completa, ::Aqui::

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