Como fazer beber um burro que não tem sede

Dom Pedro José Conti, Adital
"O famoso padre Loew, um dia, escreveu: "Como fazer beber um burro que não tem sede? E como, mantida a atitude reverente, dar a sede e o gosto de Deus aos homens que o perderam? Como fazer beber um burro respeitando a sua liberdade? Há uma única resposta: encontrar um burro que tenha sede, grande sede... e fazê-lo beber longamente, com alegria e volúpia, ao lado do primeiro. 

Não para dar a este o bom exemplo, mas porque o segundo burro tem fundamentalmente sede, verdadeira e simplesmente sede, perpetuamente sede. É possível que um dia seu irmão, tomado de inveja, se pergunte se não deveria mergulhar, ele também, seu focinho na tina de água fresca. Ele mesmo descobrirá quanto lhe fazia falta aquela água. Os homens que têm sede de Deus são mais eficazes, para convencer os outros, do que as muitas asneiras contadas sobre ele...".

Talvez nem precisasse de muita explicação. No evangelho deste domingo, Jesus diz aos seus discípulos que eles são "o sal da terra" e "a luz do mundo". Falava para eles e continua falando para nós. Jesus nos quer ativos, dando gosto à vida, e luminosos para ter clareza sobre o caminho a percorrer. Não quer seguidores insossos, sem alegria e sem entusiasmo. Não quer cristãos vaidosos, que gostem de aparecer por si mesmos. Quer cristãos decididos e corajosos, capazes de mudar condições de escuridão e desânimo em situações de libertação e esperança. Capazes de despertar a sede de Deus.

No entanto, tudo isso não é nada fácil por duas simples razões. Primeiro, por causa da nossa própria fraqueza, da nossa pouca luminosidade. Muitas vezes somos nós a não deixar que a luz do Evangelho ilumine a nossas vidas. Isso acontece quando tomamos as decisões sérias do dia a dia seguindo os critérios comuns, do interesse, da vantagem, do próprio bem-estar e tranquilidade. 

O mundo sempre quer nos convencer disso: o que vale é cuidar de nós mesmos, passar bem, ficar acomodados e sem nos preocupar com os grandes problemas da convivência humana. A nossa justificativa é que, afinal, sempre foi assim, sempre haverá injustiças, ricos e pobres. Deus criou o mundo assim e nós não vamos entrar nesta de querer mudar as coisas. Nem pensar! As grandes causas que dão sentido à vida não nos interessam.

O cristão que não quer mudar nada porque para ele tanto faz, perdeu a medida da justiça, não sabe mais distinguir entre o certo e o errado. É o sal que não tempera mais. É a luz que se apagou. Pode ser jogado fora. Se nem o primeiro burro tem sede, dificilmente convencerá outro a beber da fonte.

Muitas vezes, porém, o discípulo é bom, alegre, esforçado, consciente da sua missão, mas encontra muita dificuldade para conseguir despertar o interesse dos outros. Fala, explica, mas só colhe olhares de comiseração. Ninguém o escuta. Neste caso, o exemplo é decisivo, mas não mais um exemplo qualquer. 

O discípulo de Jesus deve manifestar tamanha firmeza e coragem nas suas atitudes que vai chamar atenção ou, ao menos, consegue fazer surgir, nos indiferentes, a dúvida de que seja ele a estar no caminho certo e que muita coisa mudaria, para melhor, se outros se juntassem a ele. No entanto, tudo isso não significa sucesso pessoal. Ao contrário, o cristão corajoso pode se tornar um mártir, isto é, uma testemunha capaz de perseverar até o fim, sem desistir nunca e sem recusar a entrega da sua própria vida.

Quantas vezes, ao longo da história da fé, os outros se convenceram da bondade da busca do cristão exemplar quando ele não estava mais entre eles, quando tinha sido mandado embora ou literalmente eliminado. Sempre foi dito que o "sangue dos mártires é semente de novos cristãos". Como o sangue de Jesus.

Manter a alegria da própria fé em circunstâncias adversas, continuar a procurar o Deus verdadeiro em meio a críticas, zombarias e perseguições é sinal difícil de se esconder, luz que não se apaga facilmente, sal que sempre tem gosto. Alguém vai querer conhecer a fonte de tamanha força. A sede foi despertada. Desta vez, o segundo burro foi cativado. Perdoem-me a linguagem, mas se cada um de nós fosse capaz de convencer outro "burro"... Quantos mais louvariam ao "Pai que está nos céus". E todos alegres!"

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